Intervenção do Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Aveiro, 1 de Julho de 2005
No
dia 10 de Fevereiro de 1998, há pouco mais de sete anos, era
lançado aqui em Aveiro o Programa Cidades Digitais.
Aveiro Digital tornou-se o símbolo desse programa e o seu
exemplo mais evidente. Importa justamente celebrar esse êxito e
a qualidade do trabalho realizado e da liderança do programa.
Entendíamos então que a qualificação como Cidade Digital se
deveria impor progressivamente e servir de referência para todas
as cidades portuguesas. Mas desde início insistíamos que se
tratava de uma meta exigente, não do ponto de vista técnico, mas
do ponto de vista social e político.
Trata-se de mobilizar pessoas e organizações para se articularem
e comunicarem, para agirem em rede, para se abrirem para fora do
espaço restrito das suas práticas tradicionais. A cidade ou a
região digitais olham, escutam e falam para fora, reconstroem-se
num espaço alargado de experiências, chamam os outros. O que as
tecnologias permitem e estimulam só se realiza na motivação e
nas práticas das pessoas e na mudança social concreta.
Quando há sete anos, no início deste processo, lembrávamos que a
cidade digital tinha de ser experimental, conhecedora e prática,
literalmente digital porque estava ao alcance e na ponta dos
nossos dedos, e que a informação apenas ganha sentido no
contexto do conhecimento e do saber fazer, acentuávamos mais
ainda os objectivos de modernização e progresso social que estão
na base deste programa.
Hoje relançamos esta ambição e essa esperança.
Sabemos que o mais difícil está por fazer.
O
progresso realizado é imenso. Hoje as Cidades e Regiões Digitais
construíram redes de conhecimento e de informação, juntaram
organizações que antes se ignoravam, simplificaram procedimentos
administrativos e estimularam a transparência e eficiência dos
serviços, melhoraram a competitividade das empresas, promoveram
a inclusão social, deram casa aos sonhos de crianças para quem
os computadores e a Internet eram miragens de montras de Natal.
Mas
o mais difícil está por fazer.
Mais de setenta por cento de quem concluiu o ensino secundário
utiliza hoje a Internet.
Mas
apenas catorze por cento de quem não atingiu ou não ultrapassou
a actual escolaridade obrigatória, o nono ano, utiliza a
Internet. Ou seja, a maioria da população portuguesa.
É
imperioso superar o atraso das qualificações, renovar a educação
para os que já não estão na escola e precocemente a abandonaram.
Não
se trata apenas de formar para as tecnologias de informação, mas
de formar e de qualificar, de certificar competências práticas,
de elevar o nível educacional geral da população, de valorizar
efectivamente o conhecimento.
Lançadas as Cidades e Regiões Digitais, intensificado o processo
de ligação em rede de todo o País, das suas organizações e
actividades, abertas ao exterior e democratizadas a uma escala
sem precedentes a informação e a comunicação, há que concentrar
esforços agora na sociedade toda e na sua qualificação
acelerada. A tecnologia instalada e as estruturas criadas estão
aí. As equipes de missão e coordenação que são motores das
Cidades e das Regiões Digitais têm nas suas mãos um dos mais
importantes instrumentos para a transformação modernizadora da
sociedade, e para intervenções transversais a todos os grupos
sociais.
Vamos pois ser mais exigentes.
Não
nos contentamos com a realização dos investimentos feitos, mas
teremos de medir os resultados sociais desses investimentos.
O
Portugal Digital deve promover a qualificação das pessoas e das
organizações.
O
seu sucesso mede-se em cada uma das suas acções e medidas, na
capacidade de informar e de trabalhar em rede, na
disponibilidade do espaço público e na qualidade da iniciativa
empresarial, mas também se deve aferir pelo esforço posto e
pelos resultados alcançados na qualificação escolar e
profissional das pessoas e na inclusão de todos os grupos
sociais.
Esses devem passar a ser os novos indicadores.
Qualificar as organizações e as pessoas.
Uma
Cidade Digital com sucesso terá conseguido que os mais velhos,
os mais pobres, os que tiveram menos instrução escolar sejam
chamados à motivação e ao uso efectivo dos meios de informação e
comunicação apropriados. Mas esse objectivo é apenas um
indicador para o resultado mais exigente de ter conseguido que
esses mesmos tenham decidido voltar a estudar, que a cidade
tenha sabido refazer a escola e as estruturas de formação para
acolher essa vontade.
Uma
Cidade Digital vai passar a medir-se pelo índice de penetração
da Internet que conseguiu em todos os grupos sociais,
especialmente naqueles de menores habilitações escolares, e pela
qualificação dos seus serviços e empresas no espaço da sociedade
da informação. Mas vai também medir-se pela mudança na
qualificação dos seus membros, no número de adultos em formação,
na superação dos baixíssimos índices nacionais de instrução
secundária, no número de organizações sujeitas a processos de
avaliação e certificação. Sobre essa realidade, devemos ter a
ambição de construir e fazer funcionar redes, de funcionar em
rede: mas cada mais a uma escala superior à de cada cidade e
cada região. O tele-trabalho, a tele-medicina, a tele-segurança,
as redes de trabalho cooperativo à distância, a produção de
conteúdos, não podem doravante confinar-se às fronteiras locais
da sua génese. Conseguir uma efectiva oferta concorrencial,
especialmente no sector das comunicações, deverá ser também uma
das medidas de sucesso das regiões digitais.
Sete anos depois, a Cidade e a Região Digital atravessa uma nova
fronteira. O seu desafio é o da sociedade toda. Querer saber
mais, estudar, saber fazer melhor. Ser uma região de todos,
aberta ao mundo e capaz de se comparar, não apenas à superfície
das coisas mas na densidade concreta do tecido social, cultural
e económico, com as melhores.
Fonte: Portal do Governo